PESQUISA EDUCACIONAL

"Conselho de classe 2015: A visão dos professores sobre a educação no Brasil.": Uma pequena análise de alguns pontos abordados nessa pesquisa

  

CONSELHO DE CLASSE 2015A pesquisa "Conselho de classe 2015: A visão dos professores sobre a educação no Brasil", encomendada ao IBOPE Inteligência pela Fundação Lemann e com o apoio do Instituto Paulo Montenegro, revela importantes pensamentos e opiniões de professores do Ensino Fundamental e Médio de escolas públicas de áreas urbanas do Brasil.

Nela, quatro temas se destacam:
  1. Acompanhamento psicológico
  2. Defasagem 
  3. Fortalecimento da profissão
  4. Formação continuada
Vamos destacar e comentar - colocando diversos questionamentos para debate, nunca impondo pensamentos ou opiniões - alguns desses temas e seus desdobramentos iniciando - em destaque - com declarações ou citações da pesquisa.


INDISCIPLINA


"A falta de acompanhamento psicológico para os alunos que precisam" e a "indisciplina" foram apontadas como as principais urgências pelos professores do Ensino Fundamental. 

Quando falamos de indisciplina - que é um problema recorrente e de difícil solução -, tendemos a, num primeiro momento, culpar os alunos. Os alunos podem, de fato, estar desrespeitando o professor e, até, outros colegas de classe. Mesmo assim, só culpar os alunos sem saber exatamente o porquê, não resolve o problema. 

Quem dá aulas no dia a dia ou "no chão da sala de aula" como se diz, sabe que essa postura não dá resultado e nem melhora o ambiente da escola. Nesse sentido, se a causa da indisciplina não for, de fato, identificada, a tendência é que ela se perpetue tornando o trabalho diário do professor, verdadeiramente, insuportável.

O que ocorre, na prática, é que poucas vezes nos questionamos a respeito da origem da indisciplina. Não deveríamos refletir mais sobre isso? Alguns questionamentos, antes de mais nada, se fazem necessários sobre o tema, como por exemplo:
  • Por que alguns alunos são indisciplinados na minha aula?
  • Como e por que a indisciplina é gerada? 
  • Será que as aulas e a metodologia adotada estão estimulando os alunos a participarem mais ativamente delas ou está provocando desinteresse? 
As causas da indisciplina são múltiplas e variam de aluno para aluno. Há motivos pessoais, familiares, psicológicos, culturais entre outros, que estão relacionados com o aluno, mas há também, possivelmente em alguns casos, os associados à escola e à sua metodologia de ensino, assim como a forma do professor ensinar, principalmente em pleno século 21.

Ou seja, refletir, pensar e analisar sobre como e por que isso ocorre é fundamental. Escolas, comunidades, diretores, coordenadores, professores, funcionários, pais e alunos devem, juntos, participar dessa discussão. 


 DEFASAGEM DE APRENDIZADO


"No Ensino Médio, a defasagem de aprendizado também aparece entre os principais desafios

A defasagem de aprendizado é uma realidade das salas de aula brasileiras. A questão que se coloca é: como resolver esse problema?

Melhorar a qualidade da educação básica seria a resposta mais fácil, intuitiva e citada em alguma pesquisa relacionada ao tema. Mas, o que significa, de fato, "melhorar a qualidade" especificamente nesse caso?

Metodologias inovadoras como ABP - Aprendizagem Baseada em Projetos -, Ensino Híbrido, Ensino Personalizado com utilização das TDIC - Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação -, entre outras, não poderiam contribuir de modo extremamente eficiente e eficaz para mitigar os problemas relacionados a essa questão?

As chamadas novas tecnologias digitais não poderiam contribuir, principalmente no que se refere a um aprendizado mais personalizado, reduzindo o tempo e customizando o processo de ensino e aprendizagem?

Será que estamos pensando nesse tipo de solução? Ou será que estamos apenas constatando o problema sem, de fato, pensar em soluções eficazes para ele? Fica aqui a pergunta no ar.


SALAS DE AULA HETEROGÊNEAS


 “Na mesma classe tem alunos avançados e alunos abaixo do básico. Então, como preparar uma aula? Como lidar com isso em sala de aula?
                                     (Prof. do Ensino Fundamental II)

Como resolver essa questão? Colocando os melhores alunos numa sala e os piores em outra?

Segundo o bielorusso  Lev Vygotsky e seu conceito de zona de desenvolvimento proximal, a chave do aprendizado é saber explorar as diferenças e potenciais de aprendizado de cada aluno.

No início do século 20, Vygotsky defendia justamente o que está sendo colocado nesse questionamento da professora em destaque acima, ou seja, a interação, numa mesma sala de aula, de crianças mais avançadas com as de maiores dificuldades de aprendizagem.

Não poderia estar aí uma das possíveis soluções para esse "problema" apresentado pela professora? Será que a metodologia utilizada, nesse caso, não seria o problema e não as diferenças entre alunos "avançados" e "abaixo do básico"? 

Certamente, numa sala de aula heterogênea onde se aplica uma metodologia de ensino tradicional - onde todos aprendem do mesmo jeito de modo fabril - os "diferentes" não aprenderão da mesma forma, ocorrendo exclusão de parte dos alunos do processo.

Com essa metodologia, o professor não saberá o que fazer, pois não tem, de fato, o que fazer. Não há mágica sem mudança na metodologia.

FORMAÇÃO CONTINUADA 


Apenas 54% dos professores entrevistados concordam totalmente com a frase "Os cursos colaboraram com a prática em sala de aula" e apenas 46% com a frase "Os cursos atenderam às suas necessidades".

O que esses números revelam? Muitas formações realizadas fora do espaço da escola e com temas que, muitas vezes, não contribuem , de fato, com as práticas pedagógicas de sala de aula.

Nesse caso, a resolução me parece mais simples e, provavelmente, consensual, mas a sua efetivação, na prática, ainda parece distante. Ou seja, necessitamos de mais práticas e cursos que resolvam e discutam os problemas de indisciplina, salas heterogêneas, defasagem escolar e outros que estão latentes nas salas de aula dentro de cada escola e menos - embora também tenham importância - de formações mais filosóficas e generalistas fora do ambiente escolar.

A pesquisa, na íntegra, está disponível para download aqui.

Até próxima!

Enjoy!

Prof. Carlos Sanches






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